"Não basta ser pai, tem que participar; não basta ser remédio, tem que ser Gelol". Esta era a frase chave do comercial da Gelol lançado em 1984. O comercial dirigido por Duda Mendonça, chegou a ganhar o Leão de Ouro em Cannes por Direção e Criação. Além de vender o produto, o comercial deixou uma lição para a família brasileira que, já naquela década, era vítima da falta de tempo, da busca exacerbada pelo capital refém da alta inflação de Figueredo. A família sofria mudanças radicais em seu modelo. Era a época da ascensão da mulher no mercado de trabalho que assumia as responsabilidades do lar, face ao então crescimento de separações e divórcios.
O comercial da Gelol começa com um pai tentando dormir em seu dia de folga e sendo acordado pelo filho que deseja a presença paterna no seu jogo de futebol. Já em campo, em dia de chuva, por algum motivo o garoto é expulso do jogo sob os olhares preocupados do pai e de sua irmãzinha que sentem a dor do garoto impossibilitado de continuar no jogo. Por uma razão desconhecida, ele termina voltando ao jogo. Neste instante, sofre uma falta que lhe machuca. O paizão então salta da arquibancada com a maleta de primeiros socorros onde estava a pomada Gelol. Depois da massagem com o produto, o garoto se sente bem para fazer uma cobrança de falta e acerta um golaço. Pronto, é só correr pro abraço. Lá estava o paizão: socorrendo e compartilhando com o filho momento tão importante para ele.
Não tenho dúvida de que o verdadeiro Pastor é um pai para suas ovelhas. Tenho algumas ovelhas no rebanho onde trabalho como Pastor Auxiliar que me chamam de pai. Ovelhas que me telefonam, me mandam emails, me procuram no Gabinete. Elas confessam suas culpas e compartilham seus sonhos e decepções. Pedem orientação e acreditam que o Pastor sempre tem uma palavra de ânimo e conforto. Todo Pastor amante de seu ministério tem esta experiência. Ele tem que aprender a dividir-se entre sua família e estes filhos espirituais adquiridos ao longo de sua carreira ministerial.
Pastor não é um título a ser ostentado nem uma posição de destaque na Igreja. O Pastor é aquele que participa, que se envolve, que chora e sorri junto, que vibra e num bom sentido, torce. Está sentado na arquibancada dos momentos importantes de suas ovelhas, com a mala dos "primeiros socorros" pronta a ser usada no instante em que a ovelha for atingida no jogo da vida. Seu gelol é a Palavra de Deus e seus preciosos ensinos.
No comercial da famosa pomada, depois do gol do garoto, ele só queria abraçar o pai, aquele que não só estava presente, mas teve papel imprescindível em sua recuperação e em seu gol.
Não, não somos celebridades, não somos administradores, nem dirigentes. Somos Sacerdotes, médicos das almas. Somos seus analistas. Prognosticamos e diagnosticamos. Somos terapêutas e prestamos serviço domiciliar, personalizado. Nosso ombro tem que estar sempre vago, nossas mãos sempre estendidas. Não ficamos inertes na "arquibancada", não somos torcedores apenas, somos pais desses jogadores da vida, dessas almas deste campeonato onde o vencedor tem que ser a minha ovelha, a sua ovelha.
Portanto, não basta pregar, não basta exortar, não basta ter uma visão, um foco. Não basta ensinar, projetar, reunir, exigir. Não basta ser Pastor, tem que participar...
Pastor Raimundo Campos
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