Definitivamente não quero usar nenhuma daquelas afirmativas que coloca o Pastor num pedestal de santidade e altruísmo e usar frases de efeito, do tipo: "pastor é amar as almas, é ser incompreendido embora tenha que compreender a todos, blá, blá, blá..." Quero abordar um lado nada poético, um lado que não se consegue ver sob a ótica de toda esta piedade versada em textos "blogais" na rede.
O Pastor, pra começar, não tem linha de crédito e num país onde a falcatrua está em todos os segmentos, pastor também é visto como provável inadimplente e o sistema lhe obriga a mudar seu código de ocupação profissional. Embora a Classificação Brasileira de Ocupações indique o código 2631-05 para Ministro de Culto Religioso, título que contempla também os pastores evangélicos, além de padres e líderes de outras confissões religiosas, quando um pastor vai a uma loja para adquirir um bem, o vendedor encontra dificuldade para preencher sua ficha com tal ocupação, aliás, o vendedor diz logo: "hum, tá, mas o senhor faz outra coisa? Quer que eu preencha como autônomo?"
Sim, o mercado não acha confiável vender a um pastor, a um padre vá lá, mas pastor? Até porque a procedência da renda do pastor é vista como vindo da extorsão e do charlatanismo, embora seja a mesma do padre, dos dízimos e ofertas dos fiéis!
Logo, Pastor no mundo mercadológico, é este cara de ocupação indefinida, de recursos duvidosos e de confiabilidade improvável. Ele terá sempre que se identificar como autônomo e o autônomo o pode ser em várias áreas, na área de vendas, de motorista de prestador de serviços, etc., mas ainda assim é mais confiável que a ocupação do famigerado pastor!
Agora, pastor não somente é o cara sem linha de crédito, ele é também aquele líder espiritual que pode ser amado por sua comunidade, mas só enquanto tiver saúde e puder estar à frente do rebanho! Sim, a igreja da pós modernidade é, em alguns casos, desprovida daqueles sentimentos que ardiam no coração da igreja primitiva! Na igreja de hoje, o pastor tem que ter saúde para subir e descer, dar todo dia uma palavra nova ao rebanho, visitar todo dia. Pastor não tem família, não passa por tentações, não precisa se confessar, desabafar, chorar, "chutar o pau da barraca", se desesperar, nada. Pastor tem que chorar calado, se queixar? Só com Jesus! Pastor termina não tendo amigo no rebanho, porque no dia que ele confessar uma de suas fraquezas ao amigo do rebanho... Já era credibilidade, acabou a imagem de herói e de espiritual!
Pior, se adoecer e envelhecer, nem seu aniversário será lembrado! Sua igreja já estará nos braços de outro pastor, lembrando-se do aniversário do outro, porque para muitas igrejas, pastor é aquele do momento.
Quem cuida do pastor em sua velhice? Quem estar com ele em caso de uma enfermidade crônica que lhe impeça de continuar o exercício do ministério? Quem cuida de sua família? Quem lembrará de seus filhos, muitos deles sacrificados e impedidos de viver momentos preciosos com seu pai, porque este o gastava com o pastorado em companhia de outros?
Pastor, faça seu pé de meia. Construa amizades sinceras que lhe garanta a companhia quando o pastorado não for possível. Faça amigos que lembrem de seu trabalho, de sua família e não alimente parcerias com interesseiros que só pensam naquilo que você pode dar em sua posição de líder! Pague sua previdência social, seu seguro de vida, se puder, construa sua casa própria ou a adquira se lhe confiarem o crédito financiado.
Pastor, faça seu pé de meia, pense em sua velhice, pense na possibilidade de um desastre ou de uma doença incurável. Não ache que sua vida é o púlpito apenas, porque o púlpito pode até ser sua vida, mas pode não o ser para teus filhos!
Ame seu ministério, ame sua igreja, ame seus amigos, se sacrifique se for possível, se gaste em tua chamada, mas não tire os olhos do amanhã, da família, e das possibilidades do que no momento parece improvável!
3 comentários:
Pr Raimundo
Até a onde vai a nossa confiança(fé) em Deus? É certo que a previdência social é meio para todos terem o seu sustento na velhice. E, portanto, faz parte do nosso viver. Agora, porém, quanto ao pensar no desastre? Parece não soar confiança, pois o maná era para cada dia, exceto no sexto. Imagino ficar guardando dinheiro para uma doença ou mesmo para o funeral. A onde estará a provisão de Deus? E o seu cuidado por nós? Um dia ouvir alguém orientando a buscar do emprego por público, uma vez que seria garantia de estabilidade. Isso também não me soa fé! Sei que Deus pode usar o emprego público para nos sustentar, mas colocar a confiança no emprego? Isso não. Trabalho em empresa privada e creio que o Senhor é o meu sustentador, e se a porta fechar, Ele é poderoso para abrir outra.
Quanto ao texto "... no momento parece improvável!", acredito que para o cristão tudo deve ser considerado provável, e é claro, com a permissão de Deus; e assim, estaremos sempre confiando no Senhor, jamais pensando que Ele nos esqueceu ou mesmo questionando os seus desígnios.
Podemos sim, construir o nosso pé de meia, mas desde que seja, antes de tudo, tendo a confiança em Deus, e não indo além do natural, pois até mesmo o pé de meia pode falhar (lembra quando Collor de Melo prendeu o dinheiro do povo?).
Forte abraço.
E que Deus continue lhe abençoando nos seus escritos.
Ah, espero sempre alcançar a fé! Ajuda-me Senhor!
Ev. Carlos Gomes
Caro Carlos Gomes, paz.
Obrigado por teu comentário. Todavia deverias observar que meu texto diz: "Quero abordar um lado nada poético, um lado que não se consegue ver sob a ótica de toda esta piedade versada em textos "blogais" na rede." Percebeu? Estou abordando um lado. Em nenhum momento afirmo tais coisas em detrimento da confiança em Deus. O que você está sugerindo é que confiar em Deus significa ser negligente e é contra esta mentalidade equivocada que escrevo. O próprio Jesus deixou claro que o obreiro deve depender dele em Mateus 10: 9, 10, mas deixou claro em Lucas 22: 35 e 36 o seguinte: "Então Jesus lhes perguntou: “Quando eu os enviei sem bolsa, saco de viagem ou sandálias, faltou-lhes alguma coisa?” “Nada”, responderam eles. Ele lhes disse: Mas agora, se vocês têm bolsa, levem-na, e também o saco de viagem; e se não têm espada, vendam a sua capa e comprem uma." Jesus queria dizer, o fato de Deus fazer a sua parte não quer dizer que você não deva fazer a sua!
Você diz em seu comentário: "Podemos sim fazer o nosso pé de meia...", então pronto, É disso que estou falando. Obrigado e fica com Deus!
Paz
Na comunicação verbal podemos tirar as dúvidas das palavras ao vivo. Já na escrita surgem mais dificuldade.
Não quero dizer
CONFIANÇA EM DEUS = NEGLIGÊNCIA
Me parece é que existe uma linha tênue "em fazer pé de meia e confiar em Deus".
Se por um lado, alguns não cuidam da sua parte, por outro, alguns tentam fazer a parte de Deus. E essa é uma grande questão da vida. Ex: antes era tudo rígido na igreja, hoje tende ao liberalismo.
Pelo que entendi, o sr foi de encontro ao descuido pessoal; eu, vou de encontro ao outro lado da moeda, a não confiança em Deus.
Não concebo pagar o meu funeral antecipado (... desculpe-me pela redundância), como já recebi proposta. Deus proverá!
Agora se Deus me dar condição de comprar a minha casa, comprarei.
Para mim, o pé de meia é o natural.
Já vi histórias pessoas que muito confiaram na provisão de Deus: deixar suas posses e ir para um lugar desconhecido, sustentar crianças sem nunca pedir dinheiro, ir para o seminário sem recursos, ir para outro país sem conhecer a língua/lugar, deixar o trabalho, deixar uma carreira acadêmica/profissional,
https://www.youtube.com/watch?v=3Lo4Lr5jLXw
etc.
E estou esperando alcançar a fé! Entender a fé! Ajuda-me Senhor!
Natural x Sobrenatural (eis a questão: uma não sobrepor a outra)
Abraço.
Deus continue lhe abençoando e a nossa SEMADESAL.
Mc 16:15
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