25 de out. de 2010

Você Conhece Zé?

Claro que você conhece algum Zé, ou alguma Eulina. Mas o Zé e a Eulina de quem falo não são famosos, eles não são convidados para os grandes encontros e conferências. Ninguém daria a eles aquela oferta vultuosa, geralmente dada às "estrelas gospéis", aquelas que brilham mais que a Estrela da Manhã em alguns congressos.
Eles jamais serão convidados para compartilhar suas experiências adquiridas em seus trabalhos anônimos em alguma "igrejinha" ou em algum canto de nossa cidade.
Primeiro lhe falarei de Zé. É assim que ele é conhecido, seu nome mesmo é José Antonio. Um crente piedoso de minha comunidade, oriundo do interior de nosso Estado e que ao ter o primeiro contato com o Evangelho, deixou que o mesmo o transformasse radicalmente e tenta viver sua vida cristã da melhor forma possível.
Zé, não cursou o ensino médio, quando está trabalhando não consegue ganhar mais que um salário mínimo, é casado e tem dois filhos. Passa por sérias dificuldades para sobreviver. Sua esposa o ajuda com as despesas de casa trabalhando como Secretária do Lar na casa de uma das irmãs da Igreja.
Mas Zé é um crente por quem tenho profundo respeito e admiração. Ele faz o que eu não teria coragem de fazer. Ele escolheu usar de misericórdia para com os páreas da sociedade. É um verdadeiro caçador de mendigos, daqueles que se entregam à embriaguez, jogados nas calçadas de nosso bairro.
Um dia desses ele chegou para mim e disse-me: "Pastor, quero ajudar aquele homem a se recuperar." Olhei para a pessoa para quem ele apontava. O sujeito estava coberto por um lençol fétido e sujo e eu passava todos os dias por ele, olhava-o com pena, às vezes com nojo, mas nunca tinha tomado uma decisão em favor de sua vida. A maneira como Zé me falou, foi como se tivesse recebido um tiro direto no coração e por dentro de mim, caí. Olhei para ele e sorri envergonhado, dizendo-lhe:
"Zé, como você fará isto? Essas pessoas às vezes não gostam de ser ajudadas", ao que ele me respondeu: "Mas Pastor, ainda não tentamos com este". Outro tiro, esse me deixou inerte.
Ok, respondi, então é melhor chamar a Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Zé chamou a Samu, mas a unidade negou-se a colocar o sujeito no veículo, tamanha a situação de mal cheiro e contaminação em sua perna que tinha muitos "bichos".
Zé então arregaçou a manga e, junto com um outro "Zé", que vive para trabalhar em prol dessas pessoas, que coloca seu veículo para transportá-los para centros de recuperação, começara a tratar daquele estranho alí mesmo na rua, com todos passando e olhando. Trataram suas feridas, levaram-no a um lugar reservado deram-lhe banho, cortaram seu cabelo e o levaram ao Centro de Recuparação depois de obterem uma ajuda de nossa Igreja para tal.
O estranho, escravo do alcool, jogado na calçada em frente de nossa igreja, por quem a maioria de nós passávamos sem dar-lhe importância, está se recuperando e sua aparência é de um outro homem.
Zé outro dia achou cem reais na garagem de nossa igreja, um dia antes tentou ligar para mim pedindo ajuda financeira. Mas ao achar o que para muitos seria uma resposta de Deus às suas orações, procurou-me e pediu-me para localizar o dono do dinheiro, afinal, se estava na garagem da Igreja, era porque deveria pertencer a um outro irmão em Cristo, de quem ele nã se sentiria bem em subtrair algo, mesmo naquelas circunstâncias. Aconselhei Zé a esperar, pra ver se alguém se manifestaria, mas ele insistiu em localizar o "dono" do dinheiro. Procurei a pessoa que julguei ter condição de portar cem reais e, acertei, o dinheiro era dele.
À noite encontrei Zé e pesarosamente disse-lhe que havia encontrado o dono do dinheiro. Zé sorriu feliz e devolveu o dinheiro com a alegria de poder ter contribuído com o dono do dinheiro. Perguntei a ele: "E aí Zé, e sua necessidade?" Ele me respondeu com a mansidão que lhe é peculiar: "Não se preocupe Pastor, assim como Deus cuidou deste irmão, fazendo com que seu dinheiro parasse em minhas mãos a fim de devolvê-lo e ele não ter prejuízo, Ele também cuidará de mim".
Bem, enfim, ele foi ajudado depois. Mas quantos Zé como este encontramos hoje? Zé tem levado sua vida dedicada ao evangelismo e recuperação dos desvalidos e tem procurado viver o padrão estabelecido pela Palavra de Deus para sua vida. Mas ele é apenas Zé, não o conhecemos, não valorizamos, ele não se assenta entre os tais "príncipes" de Deus. No entanto, creio que este Zé como todos os que procuram viver uma vida piedosa a serviço do Mestre um dia receberá do Sumo Pastor a incorruptível coroa de glória (1 Pe. 5:4)

Um comentário:

ELIEL BARBOSA disse...

São estes "Zés" que me motivam a "ainda" ser chamado de CRISTÃO. São exemplos como este que jogam por terra todas as nossas desculpas por não fazer o que Deus deseja que façamos.
Enfim, uma confissão: Me envergonho por ter permitido que homens, e eu, me transformassem no que sou, quando deveria ser o que "Zé" é, fruto de uma verdadeira transformação.

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