
Eles jamais serão convidados para compartilhar suas experiências adquiridas em seus trabalhos anônimos em alguma "igrejinha" ou em algum canto de nossa cidade.
Primeiro lhe falarei de Zé. É assim que ele é conhecido, seu nome mesmo é José Antonio. Um crente piedoso de minha comunidade, oriundo do interior de nosso Estado e que ao ter o primeiro contato com o Evangelho, deixou que o mesmo o transformasse radicalmente e tenta viver sua vida cristã da melhor forma possível.
Zé, não cursou o ensino médio, quando está trabalhando não consegue ganhar mais que um salário mínimo, é casado e tem dois filhos. Passa por sérias dificuldades para sobreviver. Sua esposa o ajuda com as despesas de casa trabalhando como Secretária do Lar na casa de uma das irmãs da Igreja.
Mas Zé é um crente por quem tenho profundo respeito e admiração. Ele faz o que eu não teria coragem de fazer. Ele escolheu usar de misericórdia para com os páreas da sociedade. É um verdadeiro caçador de mendigos, daqueles que se entregam à embriaguez, jogados nas calçadas de nosso bairro.
Um dia desses ele chegou para mim e disse-me: "Pastor, quero ajudar aquele homem a se recuperar." Olhei para a pessoa para quem ele apontava. O sujeito estava coberto por um lençol fétido e sujo e eu passava todos os dias por ele, olhava-o com pena, às vezes com nojo, mas nunca tinha tomado uma decisão em favor de sua vida. A maneira como Zé me falou, foi como se tivesse recebido um tiro direto no coração e por dentro de mim, caí. Olhei para ele e sorri envergonhado, dizendo-lhe:
"Zé, como você fará isto? Essas pessoas às vezes não gostam de ser ajudadas", ao que ele me respondeu: "Mas Pastor, ainda não tentamos com este". Outro tiro, esse me deixou inerte.
Ok, respondi, então é melhor chamar a Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Zé chamou a Samu, mas a unidade negou-se a colocar o sujeito no veículo, tamanha a situação de mal cheiro e contaminação em sua perna que tinha muitos "bichos".
Zé então arregaçou a manga e, junto com um outro "Zé", que vive para trabalhar em prol dessas pessoas, que coloca seu veículo para transportá-los para centros de recuperação, começara a tratar daquele estranho alí mesmo na rua, com todos passando e olhando. Trataram suas feridas, levaram-no a um lugar reservado deram-lhe banho, cortaram seu cabelo e o levaram ao Centro de Recuparação depois de obterem uma ajuda de nossa Igreja para tal.
O estranho, escravo do alcool, jogado na calçada em frente de nossa igreja, por quem a maioria de nós passávamos sem dar-lhe importância, está se recuperando e sua aparência é de um outro homem.
Zé outro dia achou cem reais na garagem de nossa igreja, um dia antes tentou ligar para mim pedindo ajuda financeira. Mas ao achar o que para muitos seria uma resposta de Deus às suas orações, procurou-me e pediu-me para localizar o dono do dinheiro, afinal, se estava na garagem da Igreja, era porque deveria pertencer a um outro irmão em Cristo, de quem ele nã se sentiria bem em subtrair algo, mesmo naquelas circunstâncias. Aconselhei Zé a esperar, pra ver se alguém se manifestaria, mas ele insistiu em localizar o "dono" do dinheiro. Procurei a pessoa que julguei ter condição de portar cem reais e, acertei, o dinheiro era dele.
À noite encontrei Zé e pesarosamente disse-lhe que havia encontrado o dono do dinheiro. Zé sorriu feliz e devolveu o dinheiro com a alegria de poder ter contribuído com o dono do dinheiro. Perguntei a ele: "E aí Zé, e sua necessidade?" Ele me respondeu com a mansidão que lhe é peculiar: "Não se preocupe Pastor, assim como Deus cuidou deste irmão, fazendo com que seu dinheiro parasse em minhas mãos a fim de devolvê-lo e ele não ter prejuízo, Ele também cuidará de mim".
Bem, enfim, ele foi ajudado depois. Mas quantos Zé como este encontramos hoje? Zé tem levado sua vida dedicada ao evangelismo e recuperação dos desvalidos e tem procurado viver o padrão estabelecido pela Palavra de Deus para sua vida. Mas ele é apenas Zé, não o conhecemos, não valorizamos, ele não se assenta entre os tais "príncipes" de Deus. No entanto, creio que este Zé como todos os que procuram viver uma vida piedosa a serviço do Mestre um dia receberá do Sumo Pastor a incorruptível coroa de glória (1 Pe. 5:4)
Um comentário:
São estes "Zés" que me motivam a "ainda" ser chamado de CRISTÃO. São exemplos como este que jogam por terra todas as nossas desculpas por não fazer o que Deus deseja que façamos.
Enfim, uma confissão: Me envergonho por ter permitido que homens, e eu, me transformassem no que sou, quando deveria ser o que "Zé" é, fruto de uma verdadeira transformação.
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