"Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei..."
Em alguns anos atrás os cristãos sabiam distinguir bem os cultos de ensino dos cultos públicos e todo bom dirigente de congregação sabia que seu sermão dos chamados cultos de doutrina, diferenciavam daqueles discursados em cultos públicos! Então, se o culto fosse de Santa Ceia, por exemplo, o Pastor se preparava para uma mensagem que fosse de acordo com o ritual da ceia! Além de se explicar o que significava a santa ceia, os pastores alertavam sempre sobre os perigos de se participar deste ato sagrado de forma negligente. Às vezes, tais alertas eram tão veementes que muitos cristãos, ficavam apavorados, a ponto de confessarem publicamente erros comuns que na verdade não se constituíam em pecados!
É claro que este exagero não era salutar, mas não se deve negar o fato de que, os líderes de congregações preocupavam-se em deixar o fiel atento para a sacralidade de um ato solene como o da santa ceia. Este cuidado por parte do pastor local está desaparecendo. Geralmente, as mensagens pregadas em muitas santas ceias hoje não alertam o fiel para o significado, importância e sacralidade do ajuntamento cristão mais solene.
Quero evitar falar aqui da origem do ato da ceia, a questão da páscoa e tal e ater-me aos alertas contidos no texto de 1 Co 11: 17-34. Todos sabem que esta carta de Paulo tinha o objetivo de tentar concertar erros grotescos cometidos por aquela igreja e que chegaram aos ouvidos do Apóstolo dos gentios (1 Co. 1:11; 11: 18).
Paulo deixa claro que o ajuntamento daquela comunidade dos coríntios do primeiro século, era motivo de tristeza e não de alegria (11: 17,18). Eles não tinham compreendido o real sentido do ato da santa ceia do Senhor e o transformaram em banquete e não em celebração ao Cristo morto pelos nossos pecados!
As palavras do Apóstolo nos versículos 20 a 22, deixam claro que além de transformarem o momento num mero banquete, ficava claro também o egoísmo e a injustiça social reinante entre eles! "Porque, comendo, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia; e assim um tem fome e outro embriaga-se".1 Coríntios 11:21
A Sacralidade da Ceia
No versículo 23 Paulo começa a dar o tom de sacralidade ao ato, já que se percebe que a solenidade vinha sendo profanada! A primeira verdade dita por Paulo neste versículo é que a Ceia não é uma invenção da igreja ou de seus líderes, ela foi ordenada pelo próprio Jesus Cristo. A expressão "porque eu recebi do Senhor...", deixa bem claro que a Santa Ceia é uma ordenança dada direta por Cristo!
Me parece que muitos cristãos que vem à Ceia do Senhor hoje não entende que só por este princípio já dá pra perceber que a participação neste ato deve ser algo solene, reverente e com muito temor! Foi Cristo mesmo que instituiu a Ceia e disse porque devemos celebra-la e ignorar isto é ser indiferente a uma ordem direta do Mestre!
Depois Paulo estabelece os significados dos elementos da ceia usando as próprias palavras de Jesus registradas nos Evangelhos: o pão, seu corpo. O vinho, seu sangue. Com esta afirmativa, Paulo tentava resgatar nos corações daqueles crentes o sentimento de reverência que deveriam ter para com os elementos da ceia já que eles apenas enchiam a barriga de pão e se embragavam com vinho! Para eles a ceia era nada mais que comer! Paulo chega a "gritar": "...quando vos ajuntais num lugar, não é para comer a ceia do Senhor." (11:20)
Em memória de mim
O motivo da celebração da Ceia está em torno do que Cristo fez por nós. Relembrar seu sofrimento, morte e ressurreição é trazer à mente o alto preço pago para nos resgatar. É por isso que vale reverberar as palavras de Paulo: "...quando vos ajuntais num lugar, não é para comer a ceia do Senhor." (11:20). Não, não é. É para celebrar seu sacrifício e, desta forma, aprendermos a valoriza-lo, podendo tentar dimensionar ( e isto nunca será possível) a profundidade de seu amor sacrificial por nós! É na ceia que mantenho aceso em minha memória tudo que Cristo fez para me salvar! Os cristãos modernos precisam entender esta verdade e não ter a ceia como um ritual meramente religioso.
A seriedade do ato
"Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor." 1 Coríntios 11:27
Em nenhum momento Paulo ordena que determinados irmãos devem ser impedidos de participar da ceia do Senhor, mas dá alertas muito fortes sobre o perigo de negligenciar o valor espiritual dela. É responsabilidade de cada crente entender o significado da ceia e ter em mente que assumirá as consequências de ignorar sua importância. O versículo 28 diz que cada um deve examinar-se a si mesmo!
Quero destacar aqui duas verdades contidas neste versículo 28:
1. A primeira diz respeito a examinar-se. Muitos cristãos pensam que uma vez que se examinou e encontrou algo que lhe faça indigno de participar do ato, ele não deve então participar! Quero dizer que você está errado! Examinar aqui não é apenas "detectar", "identificar", mas identificar e concertar. Nenhum médico, por exemplo, passa um exame para um paciente apenas com o objetivo de detectar um problema, mas também com o objetivo de tratar se algo for detectado! E esta verdade vem logo em seguida no mesmo versículo: "...e assim coma deste pão e beba deste cálice."
Então, a idéia aqui é: examine-se, se for encontrado algo que desagrade a Deus, concerte-se e participe da Ceia do Senhor! Alguns crentes percebem seu estado de pecado e deixam de participar deste ato importante para sua vida de comunhão com Deus e os santos! Não faça isso, não é isso que a Bíblia diz. Você deve arrepender-se do seu pecado, buscar seu perdão e participar da ceia do Senhor!
2. A segunda verdade aqui é que a responsabilidade de participar da ceia com ou sem condições espirituais, não é do celebrante do ato, mas de cada cristão: "Examine-se, pois, o homem, a si mesmo." Imagine que a primeira santa ceia no Novo Testamento foi celebrada pelo próprio Jesus e quem estava com Ele à mesa? O Evangelho de Lucas registra: "Mas eis que a mão do que me trai está comigo à mesa" (Lucas 22: 21). O traidor, aquele que fora chamado pelo próprio Jesus de filho da perdição (João 17: 22), estava na mesma mesa da ceia que Ele instituiria naquela ultima páscoa antes de sua morte. O livro de Lucas registra também duas coisas mais interessantes: Jesus anuncia que Pedro o negaria (Lucas 22: 31-34) e naquela mesa da ceia com o próprio Jesus, se cria uma discussão sobre "qual deles seria o maior" (Lucas 22: 24). Já em Mateus 26:31, após terem participado da ceia, Jesus anuncia que todos os seus discípulo se escandalizariam nele!
Porque Jesus não impediu esta gente de participar então de um ato tão sagrado como a Ceia? Perceba que Jesus adverte a todos eles, aponta seus pecados e lhes recomenda os devidos cuidados, mas não os impedem de participar da ceia. A responsabilidade é pessoal, cabe a cada um como diz Paulo, examinar-se, concertar-se e então participar. É tão pessoal que o Apóstolo assevera no versículo 29, do capítulo 11 de 1 Coríntios que, "quem come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação".
Os fracos, doentes e os que dormem.
"Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem." 1 Coríntios 11:30
Não levar a sério a sacralidade de um ato tão solene como o da Santa Ceia, pode levar muitos crentes a vivenciarem um dos estágios de debilidade da vida cristã:
O primeiro é o estado de fraqueza: perda de força, fragilidade, perda de energia, tendência a ceder a sugestões ou imposições. Este é o primeiro estágio. O fraco, se continuar em sua fraqueza, em sua falta de força, pode propiciar a instalação de alguma doença. Pode-se dizer que o fraco é o estágio que antecede ao estado de doença. O fraco é aquele que perde "vitaminas", que fica desprovido de "anti-corpos", importantes para evitar o ataque de vírus e bactérias". Estar fraco é estar propenso à ficar doente.
O segundo é o doente. Neste caso, a fraqueza evoluiu a ponto da doença se instalar. O "corpo" ficou tão exposto, tão indefeso e volúvel, que foi possível enfermar. Este é um estagio perigoso da vida cristã O doente é aquele que precisa de cura, de restauração! Mas quero dizer que tanto para o fraco como para o doente existe solução. Cristo dá força ao fraco e cura o doente.
Todavia, há também os que dormem! Aqui o perigo é maior, pois quem dorme não vê, nem ouve! Se estamos tratando de estágios de debilidade da vida espiritual, então é bem provável que este dormir, refira-se à morte! Morte espiritual! O mesmo Paulo disse em Romanos 8:6 que "a inclinação da carne é morte." Ignorar verdades espirituais como aquelas encerradas na Santa ceia do Senhor e participar dela de forma indigna, pode levar o cristão a um desses estágios de debilidade da vida espiritual, inclusive à morte. Mas é bom dizer que Cristo é poderoso para trazer-nos da morte para a vida! (1 João 3:14).
Julgue a si mesmo
Enfim, Paulo diz que toda uma problemática e consequências espirituais seríssimas podem ser evitadas se assumirmos o papel de julgarmo-nos a nós mesmos! (11: 31, 32). Isto evitaria até que outros fizessem este papel por nós, evitando também uma série de desconfortos para nós e para o corpo de Cristo. Este texto só corrobora o princípio de que a responsabilidade é pessoal!
Percebe que o versículo 32 mostra que quando nos submetemos ao julgamento do Senhor após nossa iniciativa de examinarmo-nos, "somos repreendidos pelo Senhor" e o principal objetivo disso tudo é "para não sermos condenados com o mundo."
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