Eram nove horas da manhã. Eu estava na sala do Pastor X. Conversava sobre meu ministério e meu projeto de voltar à minha terra, a Bahia. Eu tentava formar um diálogo entre amigos, porém, sentia sua distancia de mim, dos meus sonhos, dos meus planos. Seu olhar só parava em mim quando algo que considero que ele achasse mais importante, não lhe chamasse a atenção. As ligações telefônicas eram constantes, ao que ele fazia um sinal de "pare" com a mão e me emudecia numa atitude que me forçava a recomeçar várias vezes minha insignificante história.
Quando já estava quase meia hora em sua sala, sem se quer ter chegado ao meio de meus argumentos, ele fez um gesto com mãos pressionando-as na ponta da mesa, como se fosse apoiar-se sobre elas e levantar-se, gesto que fatalmente dizia que meu tempo estava esgotado e que o reverendíssimo tinha mais o que fazer. Sua frase, a única com mais de duas palavras em nosso encontro fatídico, foi: "Vamos ver isso aí, mas no momento não posso ajudá-lo". Antes, em um de seus importantes chamados pelo telefone, que lhe foi passado por um "assessor" frenético que me olhava com ar de quem queria me expulsar da sala, enquanto lhe dava o aparelho telefônico sobre meus ombros, ouvi dizer sem constrangimento ao seu interlocutor: "vai ser bom pra você. Lá tem casa pastoral, um ótimo salário e um carrão rapaz! (risos)".
Pensei ter ele interesse em ajudar um obreiro que lhe confessasse sentir-se chamado por Deus, porém precisando de ajuda. Entendi depois que este é na verdade, o tipo de obreiro considerado derrotado. Ele não tem nada a oferecer, portanto descartável no sistema. Ele não é politicamente interessante, ele não tem amigos influentes, seu trabalho ministerial é sempre realizado nos chamados "campos de prova", ele terá que conquistar seu espaço. Aí sim, quando ele estiver em alguma igreja onde possa oferecer a quem quiser trocar com ele de campo, um bom salário e outras tantas vantagens, ele será o cara! Aí ele terá o "privilégio" do aperto de mão com sorrisos do Pastor X, Presidente da Convenção Z.
Neste mesmo dia vi a lista de mudanças de campo realizadas na última AGO. O vício não tinha acabado. Quem dirige campo do nível "A" (grandes cidades com grandes igrejas), só tem chamada para outro campo do nível "A" ou, então, chamada para continuar onde está, enquanto que, quem dirige campo de nível "C" (cidades pequenas com igrejas pequenas ou em formação), é cria dum sistema que o classificou como obreiro de nível "C" e acabou. Porque? Porque quando o Pastor do campo de nível "A" faltar, o Presidente já tem um dos seus. Quem são eles? Aqueles que rodaram o Estado em suas campanhas, que lhes defenderam ardorosamente, fazendo por mero interesse.
Saí naquele dia sem perspectiva e sem esperança de dias melhores para aquela instituição. Apesar de conhecer homens de indubitável integridade naquela "casa", o grito deles tinha ecos que só reverberavam nos bastidores do sistema.
Mas o que fazer? Quando Lutero pregou as famosa 95 teses, ele queria apenas discutir com os capazes de argumentação, representantes de sua sociedade, as possibilidades do começo de um processo que levasse à mudança da igreja que ele amava. Acontece que o sistema do qual fazia parte e no qual teria acreditado e dedicado sua vida, seus estudos e formação filosófica e teológica, não estava aberto ao diálogo. A conhecida alcunha de herege lhe foi inevitável, ao que surgiu o movimento do qual dizemos pertencer.
Mas já desde os seus dias, o movimento que surgiu de sua coragem de questionar o sistema mais poderoso do mundo, também divergia, e outras reformas foram feitas.
Enquanto não tivermos a coragem de questionar este sistema déspota e anti-bíblico, que não atenta para o rebanho e não preza a razão para a qual fomos chamados, seremos apenas os pais do cego de nascença que, por medo do sistema que persegue e estigmatiza, não defende o que pensa e deixa seus filhos fazerem suas próprias defesas, com a desculpa de que são emancipados socialmente e ficamos a vê-los sozinhos tentando mudar o "imudável".
1 Tm. 3:1-7 traça o perfil do pastor, do bispo. Ele está cada vez mais raro neste sistema que estamos alimentando com nossa omissão.
2 comentários:
Ah! meu amigo. Foi-se aquele tempo em que aprendemos a priorizar o reino de Deus, entenda-se, a busca pelas ovelhas perdidas para, depois de encontrá-las, dedicarmo-nos mais ainda a cuidar delas no aprisco com boa comida e água fresca.
Como dizia certo apresentador de televisão: "o sistema é bruto!"
Todavia, meu caro, se a gente não mudar, nada muda. Eu tive de mudar, pois o que ficou colocado diante de mim foi: manter meus princípios cristãos longe da organização religiosa, ou manter-me dentro da organização religiosa longe dos princípios cristãos. Escolhi me afastar da organização religiosa. Quem quiser a minha ajuda assim, pode contar comigo. Quem não. Paciência. Estou em Cristo, e isso é o que me importa.
Acrescento ao seu post o que aconteceu comigo essa semana: Depois de estar certo para ministrar na Assembléia de Deus em Rio Sena, fui contatado novamente pelo irmão (você o conhece), querendo saber se eu pertencia a CEADEB ou CONFRAMADEB (pergunta do pastor dele). Nossa resposta (minha e da minha esposa), foi de que, sendo Presbítero, separado pela Assembléia de Deus em Salvador, em 2007, não sou vinculado a nenhuma das duas. Segundo ele, o Pr. Jessé (superintendente da Congregação), proibiu a minha ida para lá. Ou seja, pertencer a Cristo, mesmo dentro da Assembléia de Deus, não quer dizer nada para essa turma.
Como disse, paciência. Apesar de sentir pesar pelas pessoas que estão subordinadas a este estado de coisa, minha vida cristã segue, com a certeza de que tenho procurado seguir os conselhos de Cristo.
Fique com Deus.
Caro Eliel. Quantas vezes divergimos? Várias. Mas sempre respeitei suas posições e você as minhas. Nos conhecemos desde a época em que éramos solteiros, cheios de sonhos, planos ministeriais e desejos de mudança. Acontece que a nossa geração não gritou, não se posicionou. Agora assistimos de camarote princípios que prezávamos, serem ignorados em detrimento de interesses pessoais. Como você, não concordo com tais posturas, tanto da CEADEB quanto da CONFRAMADEB. Quando contactado pelos irmãos da referida congregação, o indiquei, por entender que fazes parte dos poucos que assumiram compromisso com o Reino de Deus e sua Palavra e por ser alguém com conteúdo. Lamento a situação, não é você o prejudicado, mas quem deixará de receber os preciosos ensinos da parte de Deus através de tua vida. Lamento "nossa" falta de maturidade para gerir a atual situação, lamento termos que passar por cima da comunhão que deveríamos preservar, para afirmar conveniências.
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