3 de jan. de 2012

Missão Após as Curvas das Colinas Haitianas



Por Raimundo Campos

Jacmel, Capital do sudeste haitiano, cidade costeira fundada em 1698, a 90 Km da agitada Porto Príncipe. A rota para Jacmel é perigosa e dura duas horas. Quem pega o precário transporte de Porto Príncipe para Jacmel, enfrenta cerca de 300 curvas fechadas em ladeiras que anunciam a subida de uma colina que escondem o perigo e a morte a todo instante.  Cargas pesadas e mal arrumadas, são vistas a todo momento nos caminhões que transportam mercadorias da Capital Porto Príncipe para a litorana Jacmel. No interior do veículo, algumas pessoas acostumadas com o que para nós é uma aventura inédita, olham pela janela como se estivessem olhando para o infinito, enquanto outras, mais sensíveis à mudança de altitude, passam mal e se servem de algum recipiente para por para fora sua agonia. Em minha experiência, segurei com toda força alguma parte do veículo enquanto tinha constantes pressentimentos.
Com professoras haitianas
do projeto de Iraildes
Ao meu lado, tranquila e tentando passar-me sua tranquilidade, a Miss. Iraildes Moreira, uma mulher madura e com experiência no lidar com o povo haitiano. Eu a observava, enquanto ela preparava-me para o que vinha após as curvas das colinas. As histórias de Iraildes estavam repletas do que para mim parecia apenas o imaginário dos contos de missões. Para ela, era real, era vida, era sua história.
Ao descer do veículo, tentei ter uma visão panorâmica até onde fosse capaz de identificar o cenário das histórias da missionária. Observei as pessoas, agitadas como em Porto Príncipe e, como em todo país, gente interessada em tirar proveito do estrangeiro.
Escola de Alfabetização de Adultos
Uma vez instalado, conheci o trabalho desenvolvido pela Missionária Iraildes naquela cidade misteriosa, escondida após as perigosas curvas das colinas do sudeste haitiano. Naquele momento, novembro de 2009, dois meses antes do terremoto que abalou o país, a cidade parecia já ter passado por um. Apesar de ser mais bem cuidada que a Capital do país, Jacmel tem mesmo características de uma cidade interiorana, com motos subindo e descendo, comércio desorganizado e uma coisa interessante: comboios da Força de Paz da ONU, conduzindo os boinas azuis, o que dá a impressão de estado de sítio.
O haitiano, com algumas excessões, são desconfiados e isto se deve ao fato de historicamente terem sido explorados por estrangeiros que usam a imagem deste povo sofrido para fins inescrupulosos.
Com crianças da Escola de Oban
durante a Escola Bíblica
Mas no meio deste ambiente hostil e marcado por guerrilhas, conflitos, pobreza, enchentes, herdeiros de um sistema político e econômico em decadência, nasce o Projeto de uma baiana que, se sentindo chamada pelo Senhor, resolve viver ali, no meio de toda esta turba sociológica e se doar ao resgate da cidadania de famílias pobres e crianças desamparadas. Educação é sua estratégia, ela a usa para dar oportunidade a adultos e crianças de aprenderem a ler em sua própria língua, o crioulo. Entre uma aula e outra, a mensagem do Evangelho soa com naturalidade. As crianças demonstram receptividade à aula de Bíblia por professores que ensinam também a língua nativa, francês (idioma oficial), matemática e recebem salários oriundos das ajudas que a Missionária recebe de seus mantenedores.
Falando a uma das igrejas
que apoiam a Miss. Iraildes
Uma semana foi suficiente para conhecer as cinco turmas: uma de alfabetização de adultos e quatro do ensino fundamental para crianças, além do serviço de ajuda humanitária que envolvia: construção de casa para um deficiente visual, cestas básicas para famílias pobres, entre outras ações sociais e a igreja, a qual tive o prazer de inaugurar.
A Miss. Iraildes começa seu trabalho de manhã cedo com oração pelos missionários da Semadesal e pela Adesal, Semadesal e parceiros de seu projeto. Depois, visita todas as escolas, as quais funcionavam antes do terremoto, em prédios e terrenos doados por Pastores amigos seus.
Com o Pastor Boliviano Augusto
em sua casa em República Dominicana.
Depois daquela semana em Jacmel,  presenciando  o labor missionário de Iraildes no meio de um povo agitado e de costumes bem diferentes dos nossos, entrando em vilas, conhecendo gente cuja expressão parece estar sempre interrogando sobre a nossa missão; depois de sentir a pressão espiritual e o desgaste físico e mental a que se submete nossa missionária, senti que por trás daquelas colinas está se construindo uma história que vai além daquela dos relatórios missionários de Iraildes.
Ela ainda está lá. Passou pelo terremoto, viveu o milagre de ser resgatada por uma aeronave da Força Aérea Americana, veio ao Brasil com o Miss. Lucson, seu parceiro no projeto, com quem se casou e voltou para dormir em barracas e viver ao lado do povo que aprendeu a amar. Voltou ás colinas do sudeste haitiano para ajudar aquele povo  com aquilo que o Senhor colocou em suas mãos.
Pregando na inauguração da igreja
liderada por Iraildes.
Seu projeto virou instituição com registro e o reconhecimento das autoridades. Apesar de ter perdido alguns de seus mantenedores, ela conseguiu, milagrosamente, comprar material didático e fardamento para algumas turmas de sua escola que os recebe de graça.
Mesmo sofrendo intempéries como: assalto, diminuição da ajuda financeira por parte de mantenedores particulares, perdendo a casa que morava antes do terremoto, Iraildes consegue ressurgir das cinzas e se erguer para levar esperança e a mensagem de que, por trás das curvas das colinas do sudeste haitiano, uma luz está raiando e, Deus, continua operando através dos seus...
Se você quiser contribuir com o ministério da Miss. Iraildes, entre em contato conosco.

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